27 jun

A LIBERDADE DA PALAVRA

“O Beijo do Hotel de Ville”, de Robert Doisneau, é uma das fotografias mais famosas do mundo. Como você contaria essa história?
Um jornalista poderia contá-la assim:
“Em 1950, em Paris, a atriz Françoise Bobbet trocava beijos com o namorado quando foi abordada pelo fotografo Robert Doisneau, que fazia um ensaio sobre amantes para a revista Life. 62 anos depois, a imagem é uma das fotografias mais populares do mundo. Em 2005, seu original foi levado a leilão e arrematado por 155 mil euros pela personagem da foto, então, com 75 anos, e um milionário suíço.”
Um poeta, como Olavo Bilac, poderia descrevê-la assim:
Um Beijo
Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior…Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!
Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.
Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?
Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto…
E um narrador de histórias, assim:
“São 18h12. Marine olha o relógio pela terceira vez. “Será que ele vem?”, pensa enquanto observa um casal de mãos dadas virando a rua. “Eu não deveria ter marcado num lugar tão cheio. Será que ele veio, não me achou e foi embora?”. “Sem sinal” aparece na tela do celular. 18h15. Uma leve brisa a faz lembrar que deveria ter levado luvas. “Acho que ele não me perdoou.” As sombras estão cada vez maiores com o por do sol que se aproxima. 18h21. Uma delas se aproxima demais por trás. Em milésimos, que pareciam horas, a sombra se transforma em toque. O toque em abraço. O abraço em beijo. E o beijo em calor da alma e paz no coração.”
Há milhares de maneiras de contar uma história. No 3o Prêmio Ecofuturo de Educação para Sustentabilidade a forma é a narrativa. Com o tema: “Rio+20: e eu com isso?”, procuramos boas histórias de professores e educadores sociais comprometidos com a promoção de habilidades conceituais e práticas de seus alunos, tendo como cenário a realidade local e como objetivo empreender melhorias no presente de olho numa mudança global futura.
Um ótimo exemplo de como narrar uma boa ideia é o da  professora Renan Augusta Pereira Melo, autora do projeto “Rui, o Lagarto Letrado”, vencedora do 2o Prêmio Ecofuturo de Educação para Sustentabilidade (o projeto pode ser lido na íntegra baixando o livro Saber Cuidar 2 na nossa Biblioteca Virtual.  http://www.bibliotecavirtualecofuturo.org.br/item/saber-cuidar-2—varios-autores
Diz ela: “Todas as manhãs o lagarto Rui passeava o seu corpo esguio por entre as árvores e folhagens do pátio. O pátio da escola era repleto de paineiras, mangueiras, jatobazeiros e diversas árvores nativas. Muitas plantas e bananeiras do brejo, um capinzal alto servia de refúgio ao lagarto. Tudo corria bem. Muita comida, muito verde, muito sossego, sem falar ainda de todas as aulas que ele assistia com seus olhos vermelhos esbugalhados e sua atenção impassível. Ficava desfilando seu amarelo-esverdeado por todo o pátio, escondendo-se e reaparecendo para assistir a essa ou aquela aula. Ficava ali, olhando parado, sem medo, sem pressa. E assim foi, o Rui assistindo as aulas, do pátio, e nós das salas espiando o Rui. Convivência calma, serena, respeitosa… Cada um no seu espaço, cuidando e sabendo cuidar. O Rui ficou letrado. Foram anos de aprendizado. Ficou mal acostumado, pensou até que o homem não era um bicho-de-sete-cabeças, dava para conviver. Ficou desarmado, a vida harmoniosa não o preparou para a defesa. A escola cresceu, o pátio sumiu, mais salas surgiram, as árvores caíram e o Rui sumiu! Cadê o lagarto que morava aqui? O progresso comeu. Comeu o mais letrado dos lagartos!”.
Há milhares de maneiras de narrar uma história. Mas para que ela seja boa mesmo, é preciso aprender a olhar e ter o olhar de 360o para todo o entorno, os detalhes, as possibilidades, os erros, as oportunidades, os desafios e os acertos do agora para girar uma estrela e transformá-lo em algo que brilhe, emocione e que faça a diferença para a sustentabilidade do seu mundo e do mundo de todo mundo. E que, além disso, essa história seja contada com o coração. Uma boa história merece ser contada sem as amarras burocráticas, com prazer, cuidado, gentileza e emoção.
Inspire-se. Integre-se. E solte suas palavras no mundo. Sustentabilidade rima com  liberdade, de pensamento e de expressão!

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