12 fev

Do problema individual à política pública

Não sei se você, caro(a) leitor(a), já teve a oportunidade de estar em outro país onde não dominasse a língua. Não estou falando de algum país da América Latina, em que o castelhano é relativamente parecido com o português. Ou mesmo de algum país de colonização inglesa, onde as noções de inglês aprendidas na escola – ainda que bastante básica – nos trazem alguma familiaridade e capacidade de compreensão.

Por razões profissionais, eu tive duas experiências recentes. Em 2010, estive na Suécia e não conseguia sequer ler o nome das ruas de Gotemburgo e Estocolmo. E em 2012, ao visitar o país Basco, região da Espanha onde se fala Euskera, me senti um completo analfabeto. Nas duas oportunidades, consegui me comunicar oralmente graças ao inglês e castelhano, respectivamente. Mas o fato de não conseguir ler ou escrever qualquer coisa nas línguas maternas das localidades que estava visitando, me deixou muito incomodado. Em ambas as ocasiões, voltei a refletir sobre como deve ser o cotidiano daquelas pessoas que possuem dificuldade para ler, escrever e interpretar coisas corriqueiras do nosso dia a dia, como placas de trânsito, itinerários de ônibus, produtos no supermercado, etc.

Essas experiências foram pessoais, mas me remeteram a uma das primeiras coisas que sempre aparecem durante os cursos de introdução à política pública: qual o caminho para uma política pública começar a existir?

De maneira bastante simplificada, é possível definir quatro momentos. O primeiro é o “problema individual”, ou seja, algo que incomoda apenas uma determinada pessoa. Depois, essa pessoa percebe que outras pessoas também se incomodam e isso passa a ser um “problema coletivo”. Se um grupo destas pessoas, resolvem fazer algo para solucioná-lo, chamamos de “ação pública”. E se o governo decide enfrentar o problema, podemos começar o processo de formulação de uma “política pública”.

Pensando em leitura e escrita de qualidade, isso ocorre quando eu, você ou algum professor, por exemplo, percebe que uma parte da sociedade não consegue ler ou escrever de maneira fluida. Trata-se de um “problema individual” e que nos incomoda. Se debatermos isso com outras pessoas e instituições, e elas também estiverem incomodadas, isso torna-se um “problema coletivo”. Se as pessoas e instituições decidem fazer algo pela leitura e escrita, teremos uma “ação pública”. É o que o Instituto Ecofuturo vem fazendo há vários anos. E se o governo começa a atuar, teremos uma “política pública”.

Se você, caro(a) leitor(a) está aqui neste blog, certamente, é porque também se preocupa com o tema da leitura e escrita de qualidade. Nos últimos anos, felizmente, assim como eu e você, várias organizações não-governamentais e também os governos – municipais, estaduais e federal – estão demonstrando cada vez mais preocupação em solucionar este problema coletivo que aflige várias pessoas. Ações, projetos, programas e políticas desenvolvem-se todos os dias nos municípios brasileiros, buscando democratizar o acesso à leitura. Isoladamente, certamente, não conseguiremos resolver o problema. Mas juntos e articulados, nossas chances realmente aumentam muito.

Autor: Fernando Burgos

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