26 mar

Para aproveitar livros que já não servem para ler

Conheça a história de Claudemir, funcionário da Biblioteca Comunitária de Alagoinhas/BA. O espaço começou com apenas 35 livros do próprio acervo do rapaz e foi se ampliando com doações da comunidade. Com o passar do tempo, como os livros doados eram, na maioria, muito velhos, Claudemir descobriu que, se os vendesse para reciclagem, poderia conseguir fundos para reforma e manutenção da biblioteca, que atende cerca de 2.700 leitores por mês. Os detalhes dessa história inspiradora, na entrevista de hoje.

Há quanto tempo você é voluntário na Biblioteca Comunitária de Alagoinhas?
Sou voluntário desde março de 2007, quando fiquei responsável pelo acompanhamento da construção.
Como se deu sua aproximação com o espaço e qual a função que você desempenha nele?
O meu envolvimento com biblioteca começou quando, em 08 de janeiro de 2002, eu criei uma biblioteca com 30 metros quadrados no bairro da Praça Santa Isabel, próximo a minha casa e com apenas 35 livros do meu acervo. Então convoquei a garotada do bairro para pedir livros nas casas e, no final do dia, já tínhamos mais de 150 livros. Todos os livros que chegavam eram colocados em cima de bloco de cimento, pois não havia mesas, nem cadeiras e estantes. Digamos que a minha função é “faz de tudo”. Eu não gosto de dizer “eu faço”, mas as pessoas que apoiaram o projeto no início se afastaram e eu não gosto de deixar a peteca cair. Então eu vendo livros, sou interlocutor direto com a secretaria de cultura, divulgo a biblioteca, realizo o Dia Nacional da Leitura e participo todo ano e saio pedindo ajuda para os amigos. Nem sempre consigo, mas tento.
E como aquela biblioteca improvisada foi se aperfeiçoando?
Eu pegava materiais no lixo e os transformava em estantes, reformava cadeiras… E todo dia chegavam livros para ser catalogados. Até que encontrei um livro do Ministério da Educação e Cultura com o título Os Livros São Para Ler – um manual de treinamento e orientação para pequenas bibliotecas públicas que me orientou muito na forma de classificar os livros. Em dois anos já tínhamos mais de 3.000 mil livros. Fui apresentado a uma pessoa muito especial: Ana Rita, analista de comunicação da Ferrovia Cento Atlântica (FCA), que fez uma matéria sobre a biblioteca. O Instituto Ecofuturo soube, então, de nosso trabalho e decidiu fazer um seminário Ler é Preciso para lançar uma biblioteca no município, e tive a grata surpresa de receber a visita de Juliana Zimmerman, do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação, e Elizabeth D’Ângelo Serra, da FNLIJ. Elas ficaram encantadas. Participei do seminário dos treinamentos e da implantação, e estou até hoje.
Quando você descobriu que também os livros que não serviam para o acervo podiam ser reaproveitados para reciclagem?
Descobri quando eu procurava o poder público e não encontrava apoio. Eu ficava impaciente querendo resolver as pendências; os colaboradores já não estavam com o mesmo entusiasmo e eu não queria perder essa motivação. Aí vi a possibilidade de vender os livros velhos que chegavam na biblioteca para reciclagem e utilizar o dinheiro em prol da conservação da biblioteca, e todo ano realizamos a manutenção.
De modo geral, que tipo de publicação as pessoas costumam doar à biblioteca e qual o critério dos funcionários para selecioná-los?
Setenta por cento são livros didáticos velhos, rasgados e sujos, com vários anos de uso. Os demais são livros infanto-juvenis e literatura. Primeiro analisamos se é obra rara e o estado de conservação; realizamos limpeza, restauramos se necessário e fazemos classificação bibliográfica condensada.
Agora que você descobriu esse caminho, há incentivo para que as pessoas tragam livros para a biblioteca exclusivamente para esse fim?
Sim, eu explico para elas que os livros que não interessarem à biblioteca serão vendidos para reciclagem.
O que vocês já conseguiram fazer pela biblioteca, com os recursos levantados dessa forma, e o que ainda precisam fazer?
Consegui comprar material de limpeza, recarregar cartuchos da impressora, comprar papel A4, canetas e material de manutenção. Agora, precisamos colocar telefone, internet, data show e mais três estantes.
Algum outro desafio em vista?
A minha maior preocupação é ter que um dia me afastar deste projeto, pois tenho certeza que não vai ser tratado com o carinho necessário para a grandeza da biblioteca. Hoje estamos atendendo a mais de 2.700 leitores por mês, entre pesquisas escolares, empréstimos e leituras literária.
Equipe responsável: Instituto Ecofuturo
Entrevista e estabelecimento de texto: Reni Adriano

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Deixe seu comentário