06 ago

Qual a cidade em que queremos viver?

Em nossa conversa virtual entre o Blog e seus leitores, Monica Momo levanta o assunto sobre as Cidades Sustentáveis (você pode ler o comentário na íntegra no final deste post http://www.ecofuturo.org.br/premio/blog/show/765): “Isto é saúde, é sustentabilidade (menos carros poluem menos em menor tempo de trânsito), é distribuir a moradia pela cidade não concentrando em bairros saturados, enfim, a palavra é planejamento prático sustentável nas cidades”, diz ela. Ela tem toda razão. Pensar em trânsito e planejamento urbano também é sustentabilidade.
 
Para tirar as dúvidas de Monica (e as nossas também) sobre o assunto fomos atrás do Lincoln Paiva, presidente do Instituto Mobilidade Verde (http://institutomobilidadeverde.wordpress.com/), referência no assunto. “Dentre todos os problemas que as cidades enfrentam, a mobilidade urbana é a mais previsível, porque está atrelada ao crescimento econômico. Ou seja, se o PIB cresce 1% , a demanda de mobilidade vai crescer quase 10%, aumentando os números de automóveis, transportes de carga, emprego e a necessidade de maior número de viagens ao trabalho, escola e lazer…”, diz ele. Então, o que fazer? As respostas estão na entrevista abaixo.
 
Ah, se você tiver dúvidas sobre educação para sustentabilidade, mande pra gente. É só comentar aqui embaixo. Vamos encontrar a melhor pessoa para respondê-las!
Boa leitura!
 
Em questões práticas, o que está sendo pensado para que ocorra uma reversão no congestionamento de bairros nas cidades grandes?
 
No Brasil, o Governo Federal lançou o PAC Mobilidade Urbana, com foco na Copa do Mundo e nos projetos de BRT (Bus Rapid Transit), os corredores de ônibus. As cidades ainda têm muita dificuldade em planejar e reorganizar seus sistemas de transportes, muitas ações que deveriam ser feitas são duras, tais como a redução sistemática da dependência do transportes individual, como a do carro. Para isso é necessário trabalhar com mais inteligência, mais tecnologia, sistemas de monitoramento eficientes, gerenciamento da demanda e sistemas de transportes para curta distância (bicicletas), infraestrutura (estacionamentos fora dos grandes centros, em estações rodoviárias, metroviárias e ferroviárias) e infraestrutura para transportes não-motorizados, além da integração do sistema de transporte público existente. Dentre todos os problemas que as cidades enfrentam, a mobilidade urbana é a mais previsível, porque está atrelada ao crescimento econômico. Ou seja, se o PIB cresce 1% , a demanda de mobilidade vai crescer quase 10%, aumentando os números de automóveis, transportes de carga, emprego e a necessidade de maior número de viagens ao trabalho, escola e lazer… É uma consequência, então, não dimensionar isso com antecedência, significa não ter uma pessoa qualificada ou um gestor público no lugar certo…
 
Como conciliar crescimento imobiliário com alternativas para o trânsito?
 
Planejando e re-organizando as cidades de forma conjunta. Geralmente, as Secretarias de Desenvolvimento Urbano, Transportes e Meio Ambiente trabalham de forma isolada. Tão isolada que, mesmo dentro de cada uma das Secretarias, as áreas não conversam entre si. Sem querer generalizar, dificilmente uma área conhece o que a outra faz, o que dirá de uma Secretaria para a outra. Quem regulamenta o crescimento imobiliário é o plano diretor da cidade, que deveria, por lei, ter um plano de mobilidade atrelado a ele estabelecendo diversos cenários para que a cidade se desenvolva de forma sustentável. Na prática, o sistema de transporte desenvolve mais o setor imobiliário do que resolve o problema de mobilidade da cidade. Deveria existir mecanismos para que as pessoas pudessem desfrutar de um transporte melhor quando ele chega mais próximo do bairro, porque um sistema de transporte valoriza e requalifica o bairro, mas traz consequências boas e ruins, tais como o aumento do IPTU. E as Construtoras estão atentas a isso também.
 
E como pensar em sustentabilidade em cidades pequenas aonde o trânsito ainda não é problema?
 
O congestionamento é um problema em cidades de todos os tamanhos. Nosso parâmetro de cidade pequena corresponde a cidades médias na Europa. No Brasil, temos mais de 1.700 cidades acima de 20.000 habitantes, grande parte destas cidades tem problema com mobilidade urbana. A primeira coisa que uma cidade precisa fazer é planejar que tipo de cidade ela quer se transformar. Uma cidade com excelente qualidade de vida, desenvolvida, boa para se viver ou uma cidade para automóveis trafegarem?
 
Como educadores e professores podem trabalhar em sala de aula para que se criar uma consciência de cidade sustentável entre os alunos e a comunidade escolar? Quais pontos não podem ficar de fora da discussão?
 
A cidade de Munique, na Alemanha, tem recebido diversos Prêmios da Comunidade Européia por seu programa de mobilidade urbana, que começa nas escolas, com crianças a partir de cinco anos de idade. Eles têm uma série de atividades que mostram a importância de ter uma atitude mais sustentável em relação a como nos deslocamos na cidade. E de cidadania, tais como: aguardar o sinal verde para atravessar a faixa de segurança, noções de trânsito, segurança, caminhadas, bicicletas, uso do transporte público, tipos de combustíveis mais limpos. Também é importante discutir políticas públicas de mobilidade urbana, que fortaleçam o nosso papel social tanto das empresas como da sociedade civil. Nenhuma cidade do mundo mudou sem que a população tivesse sido envolvida. Que tipo de cidades os estudantes querem viver? A dos seus pais? Ou uma cidade mais humana e sustentável? Também precisamos discutir com os alunos a questão do status que a nossa cultura de felicidade “americana” nos impõe (sucesso é ter um carro na garagem e andar de ônibus é coisa de pobre) e a falta valores sociais e da vida em comunidade contribuem para esse panorama. Discutir isso na escola vai gerar essa mudança. Ter um carro último tipo na garagem só tem valor quando podemos utilizado de forma sustentável, ou seja, quando o seu uso não atrapalha aqueles que querem se deslocar da mesma forma ou de formas alternativas. Enfim, tudo começa na escola.
 
Qual o papel da escola e da comunidade escolar nesse assunto? Cidade sustentável é só um assunto da Prefeitura e do Governo?
 
Já vivemos nas cidades que nos são impostas. As cidades dos arquitetos e urbanistas, cheias de conceitos, formas, modelos tipologias. As cidades dos Engenheiros, monumentais, das estradas, infraestrutura, viadutos, pontes e sistemas de transportes de massa. As cidades dos especialistas, dos Prefeitos. Mas qual a cidade que queremos viver? Precisamos de cidades para as pessoas. O centro desse novo conceito somos nós e não mais as formas e as estruturas. Nessa nova forma de pensar temos que assumir o papel principal e não o de coadjuvante. Temos que discutir com os gestores públicos, debater as cidades nas escolas, colocar nosso ponto de vista, tomar as rédeas. No entanto, precisamos saber qual a cidade que queremos viver e os gestores públicos precisam trabalhar para tornar realidade os nossos sonhos, e não o deles. Tudo começa com essa pergunta: Qual é a cidade em que queremos viver?

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