20 maio
Somos Feitos de Estrelas
Somos Feitos de Estrelas
“Todos os 92 elementos químicos da cadeia atômica foram forjado no calor das estrelas, a partir do Big Bang (…). Na natureza, nada se perde, tudo se transforma. Assim também os átomos que compõem a nossa estrutura física, cerca de 10 trilhões. Nosso corpo contém toda a história do Universo e, de alguma forma, trazemos em nós o réptil e toda a escala animal que precede o mamífero e o humano”, diz o escritor Frei Betto, em entrevista ao Blog Educação para Sustentabilidade. A bióloga e socióloga Rita Mendonça acrescenta: “Acredito que os animais também têm consciência, em um outro grau, e a tarefa do ser humano – que tem a consciência mais ampliada de todos – é a de expandir a sua consciência para incluir todos os seres em sua percepção do mundo”.
Stanley Kellemen, Anatomia Emocional
Nas entrevistas abaixo você encontra mais pistas de átomos e moléculas a seguir para se reencontrar a estrela que brilha em você.
Boa leitura e boa viagem!
Você compartilha da ideia de que cada átomo e molécula dos seres humanos são os mesmos originários do Big Bang?
Frei Betto: Não se trata de ideia, isso é científico. Todos os 92 elementos químicos da cadeia atômica foram forjados no calor das estrelas, a partir do Big Bang, como descrevo em meu livro “A Obra do Artista – uma Visão Holística do Universo”, cuja nova edição sairá ainda este semestre pela José Olympio. Portanto, há uma profunda conexão entre todo o Universo, incluindo homens e mulheres.
Rita Mendonça: Sim, claro, senão de onde teriam vindo as moléculas e átomos que nos formam? Somos feitos da mesma matéria das estrelas.
Como demonstrar e perceber que nossas células, nossos átomos, expressam toda a manifestação de vida da Terra – peixes, estrelas, árvores, minerais…- para ampliar nossa consciência sobre nossa humanidade comum, nossa estreita vinculação com o planeta?
FB: Como dizia Lavoisier, na natureza nada se perde, tudo se transforma. Assim também os átomos que compõem a nossa estrutura física, cerca de 10 trilhões. Nosso corpo contém toda a história do Universo e, de alguma forma, trazemos em nós o réptil e toda a escala animal que precede o mamífero e o humano. Quando sentamos à mesa para comer, estabelecemos uma relação verdadeiramente eucarística com a natureza, pois a salada era um vegetal vivo, que morreu para nos dar vida; o arroz, um cereal que morreu para nos dar vida; a carne, um animal que morreu para nos dar vida… E o oxigênio que recebemos dos plânctons e das plantas, nós devolvemos a eles na forma de carbono. Viver é um permanente beijo na boca da natureza. Trabalhei isso no livro “O Amor Fecunda o Universo – Ecologia e Espiritualidade” (Agir), em coautoria com Marcelo Barros.
RM: É preciso observar, observar, observar… Temos que observar o nosso corpo, como é feito de elementos minerais (ossos), vegetais (respiração), animais (sangue) e, como indica a sua pergunta, somos feitos também de consciência. Acredito que os animais também têm consciência, em um outro grau, e a tarefa do ser humano – que tem a consciência mais ampliada de todos – é a de expandir a sua consciência para incluir todos os seres em sua percepção do mundo. Por enquanto, vemos tudo em separado, pois essa consciência integradora é uma experiência e não uma ideia. Mas já temos a ideia…
Você acredita na teoria do caos, na qual todas as ações que fazemos localmente levam a reações inimagináveis mundialmente, mas que há uma coerência entre elas? Como esta teoria pode ser vista no dia a dia?
FB: Acredito sim que tudo está interligado. Tudo que existe, pré-existe, coexiste e subsiste.
RM: Não sei exatamente o que diz a teoria para falar a respeito. Tem muitas maneiras de ver isso.
Como estas ideias podem enriquecer a educação para a sustentabilidade nas escolas?
FB: As escolas são muito cartesianas, cortam a laranja ao meio e chamam esta metade de abacate e a outra de mamão… Devem ensinar aos alunos a teoria da evolução, o princípio de hereditariedade, o código genético, enfim, as conexões que existem entre todos os seres do Universo. Basta estudar a importância da luz do Sol na nossa saúde. Somos todos feitos de matéria estelar.
RM: É preciso tomar cuidado para que, nas escolas, essas ideias não cheguem como mais um instrumento de formatação das crianças. O que é preciso, sempre, é espaço de diálogo e estímulo a reflexão, a autonomia do pensar.
Como a Rio+20, que ocorre no mês que vem, pode contribuir para fomentar reflexões e aprendizado para o desafio de educar para a sustentabilidade de todas as vidas?
FB: Sustentabilidade é palavra da moda e corre o risco de ser banalizada. É preciso trabalhar na educação os recursos naturais – água, terra, energia etc – e quais são suas fontes, seu potencial, sua utilidade e formas de utilização. Isso começa em casa, na hora de tomar banho ou lavar pratos na cozinha; no uso da energia elétrica; no total desperdício que fazemos da mais potável água que existe – a da chuva (após o primeiro minuto de precipitação). E no entanto nossos domicílios não dispõem de nenhum recurso para armazená-la!
RM: Ainda não consegui ter uma expectativa clara da Rio+20. Queremos muitas coisas boas para o mundo, mas não estamos observando como as coisas funcionam, como as pessoas funcionam e o que aprendemos da experiência da vida e vemos o que a vida nos revela. Ficamos sempre querendo muita coisa, o que nos deixa cada vez mais frustrados e apartados do maravilhoso processo de vida do qual irremediavelmente fazemos parte. Mesmo se estivermos preparando um novo Big Bang!