11 mar

Entrevista – Gláucia Mollo

Quais as principais atribuições de uma bibliotecária?

Proporcionar boas experiências de leitura aos usuários da biblioteca por meio de atividades de leitura e sugestões de obras de qualidade. Organizar o acervo para prestar um serviço de qualidade tanto no armazenamento, na disseminação e no cuidado com a informação.

Quais os desafios da profissão e sua relevância para a sociedade?

Vejo como desafios o fato de estarmos em 2016 e muitas escolas ensinarem a ler e escrever sem terem uma biblioteca, e de ainda não existir biblioteca pública em muitas cidades do nosso País. Ou, quando elas existem, muitas vezes estão com seus acervos desatualizados e sem estrutura adequada para funcionamento. Sabemos como faz diferença que a biblioteca seja estruturada, atualizada e prestadora de serviços para a população.

Na realidade, muitas pessoas vivem sem usar a biblioteca e sem a presença do livro em suas vidas porque não sentem necessidade, porque não têm o costume ou porque o livro muitas vezes tem preço incompatível com a realidade financeira do leitor.

Muitas vezes as pessoas também não entram na biblioteca e não leem não apenas pelos motivos acima, mas porque lhes falta o acesso, ou ainda por desconhecimento do que a biblioteca tem a oferecer, pois não viveram essa experiência.

A biblioteca é o local onde podemos buscar as informações que precisamos ou descobrir onde poderemos encontrá-la. Seu uso, portanto, é pedagógico: aprendemos a utilizá-la usando. E o maior desafio é promover e ampliar o acesso à informação de qualidade ao maior número de leitores.

A Lei nº 12.244/10 prevê a universalização das bibliotecas em escolas públicas e privadas. Porém, atualmente, apenas 35% das instituições possuem biblioteca. De que forma a sociedade pode contribuir para que todos tenham acesso à biblioteca de qualidade?

A lei nº 12.244 dá esperança de um futuro mais promissor para as nossas bibliotecas escolares. Porém, é necessário cobrar as autoridades que respondem pelas escolas sobre a necessidade da implantação da biblioteca. Não importa só criar um espaço físico e colocar livros. A biblioteca não é um amontoado de livros. E mais: não basta a criação da biblioteca escolar – é preciso que a escola crie a necessidade dos seus serviços e não a utilize só como mero “depósito de livros” ou como “local específico de empréstimo de livros”.

Se a Lei 12.244/10 for implantada em todas as escolas do País e tivermos bibliotecas conectadas à internet; com acervo específico e de qualidade; com um profissional especializado liderando o processo de gerenciador da informação; e com a biblioteca fazendo parte do PPP (Projeto Político-Pedagógico) da escola, daremos um enorme salto na qualidade da educação e nos trabalhos da preparação do aluno para o mercado de trabalho, para a cidadania e para a vida cotidiana.

Na biblioteca escolar o aluno aprende a estudar, pesquisar, experimentar momentos individuais e coletivos de atividades de leitura, conhecer informações novas, se organizar enquanto estudante, usar o espaço de uma biblioteca, utilizar o acervo que é coletivo, participar de atividades culturais e socializar-se.

Sabemos que a biblioteca escolar não é a salvação da escola, mas pode contribuir para aumentar a qualidade da aprendizagem tanto do aluno como do professor, portanto é importante que todos se esforcem e exijam que a lei seja cumprida.

Na sua opinião, como seria uma biblioteca ideal, em termos de qualidade, ações e estrutura?

Existem diferentes tipos de biblioteca, portanto para falar de acervo, estrutura, ações, programas, funcionamento, organização, layout, entre outros aspectos, é preciso sempre levar em conta qual é essa biblioteca e fazê-la ser um retrato do seu público.

O acervo deve ter sintonia com o seu público. E precisa ser de qualidade, já que todas as bibliotecas têm como um dos seus objetivos a formação do leitor. Existem materiais que ampliam e outros que limitam o conhecimento do leitor. Portanto, a qualidade, atualização e diversidade de acervo são questões importantíssimas numa biblioteca.

Os serviços prestados devem refletir diretamente as necessidades da comunidade na qual a biblioteca está inserida. Se ela é uma biblioteca escolar, deve estar afinada com o Projeto Pedagógico da escola e suas ações são pertinentes a esse contexto, pois ela existe na escola para contribuir com a qualidade e aprendizagem de todos os envolvidos.

Já outro tipo de biblioteca, como a comunitária, não deve se limitar apenas em trabalhar com o público formado pela escola que a utiliza. Ela deve, sim, ampliar esse trabalho para as pessoas da própria comunidade como as donas de casa, os desempregados, os comerciantes etc. Portanto a biblioteca ideal é aquela que cumpre com a sua função social com seu público-alvo, oferecendo serviços de qualidade com materiais, equipamentos, mobiliário, acervo, profissional especializado e tudo o que for necessário para que a população possa ter acesso à informação.

Qual a importância da promoção de leitura para a formação de leitores?

Uma das mais importantes funções da biblioteca é a formação do leitor, pois é como pode de fato contribuir para que o seu público exerça a cidadania com mais dignidade. Esta função social da biblioteca é muito clara, mas nem sempre exercida, e muitas vezes confundida com um simples local de empréstimos de livros. Portanto, é preciso que na biblioteca sejam experimentados momentos de leitura.

Desenvolver ações de promoção de leitura – que podem ser de diferentes formas, como leitura compartilhada, leitura feita por um leitor experiente, debate sobre os livros lidos por um grupo, rodas de leitura etc – tem como objetivo compartilhar, indicar e apresentar leituras novas não só aos leitores já existentes na biblioteca, mas trazer novos e outros leitores a esse universo.

Ler não é simples. Exige esforço e é algo que precisa ser aprendido. A biblioteca é um dos espaços indicados para essa atividade, que pode ser prazerosa para estudo, pesquisa e entretenimento.

E uma dica de leitura?

Piroli, Wander. Três menos um é igual a sete. São Paulo: Editora: Cosac Naify, 2015

Conta uma história fascinante ao mostrar o amor de uma criança por um cachorro. Apesar de termos visto tantas outras histórias sobre essa temática, essa é original e surpreende o leitor em todos os seus capítulos, pela delicadeza com que é contada e também pelo desfecho cheio de emoção. As ilustrações delicadas foram feitas pelo Lélis e também merecem destaque, pois deixam o livro ainda mais completo.

Gláucia Maria Mollo

Orientadora Pedagógica da Rede Municipal, com Licenciatura em Pedagogia, Bacharelado em Biblioteconomia e Mestre em Biblioteconomia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas.  Foi Coordenadora das Bibliotecas Escolares da Rede Pública Municipal (de 1993-1997), Coordenadora das Bibliotecas Públicas Municipais (de 1996-2003) e Coordenadora do Comitê do Programa Nacional de Leitura (PROLER) do município de Campinas (de 1998-2005). Atualmente é responsável pelo Projeto Leitura em Movimento da Secretaria Municipal de Cultura (desde 2001), especialista que ministra cursos de Auxiliar de Biblioteca junto ao Projeto Bibliotecas Comunitárias Ler é Preciso (desde 2005) e é Votante da Fundação do Livro Infantil e Juvenil (desde 1999).

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