27 nov

Os outros somos nós

Uma mulher norte-americana virou notícia ao colocar uma placa na piscina de seu condomínio com os dizeres: “Public Swimming Pool, White Only” (piscina pública, apenas brancos). De acordo com ela, a placa não era racista, era histórica, pois datava de 1931, e foi colocada pois uma das moradoras, uma menina negra, usava produtos de cabelo que deixavam a água turva (leia a notícia publicada no portal UOL aqui).
 
O absurdo não aconteceu no século XIX, mas no começo deste ano, e é apenas a ponta do iceberg do preconceito e da violência ainda reinantes entre nós.
 
Esse é um caso evidente. Mas há exemplos de “apartheid” que muitos nem percebem e incorporam como “natural“. Há ambientes que embora não sejam pensados para este fim, acabam promovendo exclusão, pois intimidam – quando não literalmente impedem – a entrada daqueles que “não pertencem” ao mesmo grupo, em geral, econômico e social, ao qual se destinam.
 
Em um debate sobre a ascensão conservadora em São Paulo, realizado em agosto deste ano na USP, a filósofa Marilena Chauí faz uma abordagem impactante sobre as raízes e como “naturalmente” nos acomodamos numa sociedade autoritária e conservadora, que “não reconhece a humanidade do outro” e que “transforma todas as diferenças em desigualdades e naturaliza as desigualdades. Ela opera com a discriminação e o preconceito de classe, religioso, de sexo, profissional e racial. É uma sociedade extremamente violenta e que tem a tendência a situar a violência apenas na região da criminalidade e de não perceber que a violência é toda violação física e psíquica que você faz contra a natureza de alguém”. O debate completo você pode assistir nesse vídeo imperdível (http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=KrN_Lee08ow).
 
Outro bom exemplo? Quantas vezes você já não ouviu que o aeroporto está parecendo uma rodoviária por causa “dessa gente“? Mais especificamente, “essa gente” tem a ver com pessoas pertencentes à chamada “classe c”, ou “a nova classe média” (expressão errada, segundo Chauí, que chama a atenção de que o fenômeno ocorrido é de ascensão econômica da classe trabalhadora, não política): 30 milhões de brasileiros que ascenderam à classe média nos últimos dez anos, levando essa camada social a representar 53,9% da população atual. Pesquisa do instituto Data Popular feita durante o primeiro trimestre, com 15 mil pessoas das classes mais favorecidas, em todo o Brasil, revela os números do preconceito: 55,3% dos consumidores do topo da pirâmide acham que os produtos deveriam ter versões para rico e para pobre, 49,7% preferem ambientes frequentados por pessoas do mesmo nível social, 16,5% acreditam que pessoas mal vestidas deveriam ser barradas em certos lugares e 26% dizem que um metrô traria "gente indesejada" para a região onde mora.
 
Mais cuidado, se pretendemos ser humanos e comungamos da utopia da sustentabilidade. Os outros somos NÓS. Como dizia Nelson Mandela, “ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”

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